terça-feira, 15 de abril de 2008

Transvendo o trem caipira

PRISCILA MIRAZ
Depois de assistir ao documentário do antropólogo argentino Alex Portugheis, Catadores Caipiras, senti ecoando os versos de Manuel de Barros: “O olho vê, a lembrança revê, e a imaginação transvê. / É preciso tranver o mundo.”
O trabalho de Alex em Assis começou em janeiro de 2007, quando filmou o cotidiano dos catadores por um mês. De volta a Buenos Aires, tinha horas de material gravado, modas de viola, a língua portuguesa mesclada ao castelhano, e muitas lembranças de um Brasil que não chega aos noticiários estrangeiros. O que resultou desse trabalho ele nos traz agora: sua “transvisão”, a tão necessária desnaturalização do olhar, prerrogativa para a criação de possibilidades e de ações. É um olhar estrangeiro sobre nós que impõe questionamentos novos, nos fazendo repensar o lugar-comum justamente quando nos mostra o que nos circunda, através da mudança de perspectivas nas interações sociais na luta dos catadores pelo reconhecimento do seu trabalho: os bairros, a cidade, a região, o país. No documentário, O trenzinho caipira, música de Villa-Lobos e poema de Gullar, segue como o caminhão da Coocassis, transformando para continuar.
Alex convida a todos para a estréia do vídeo Catadores Caipiras, em especial aos catadores da Coocassis. O local escolhido foi o Galpão Cultural, onde diz ter sido possível a ele descobrir a vida cultural subterrânea de nossa região. Será na sexta-feira, dia 18 de abril, às 19 horas, dentro do programa Cine Galpão.
Priscila Miraz é historiadora, mestranda da Pós-graduação da Unesp de Assis.

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