sexta-feira, 4 de abril de 2008

Circo-teatro: Benjamim de Oliveira e a teatralidade circense no Brasil


ERMÍNIA SILVA

Ermínia Silva, com sua pesquisa, lança um olhar diferente sobre o fenômeno circense. Para isso, focaliza uma época bastante significativa no desenvolvimento do circo brasileiro - de 1870 a 1910, aproximadamente - e recupera uma figura emblemática do período: o artista circense Benjamin de Oliveira. A autora desvenda aos nossos olhos um espetáculo distante da decadência, sempre contemporâneo e inovador, agregador de múltiplas linguagens. Um espetáculo feito por artistas polivalentes, fruto de uma formação rigorosa, cuja atividade, mais que profissão, era opção de vida.
É, finalmente, uma obra que pode ser lida com prazer, num só fôlego, ou um livro de estudo precioso, de leitura vagarosa, a que devemos retornar sempre, não pela dificuldade de entendimento, mas pelo prazer de dialogar com o texto e com as inúmeras reflexões que a autora propõe.

A personagem palhaço


ANDREIA APARECIDA PANTANO


O objetivo deste livro é analisar a criação da personagem palhaço bem como sua forma de interpretar e encenar. Durante a análise deste processo de criação a autora procurara entrever as formas da subjetividade e da liberdade, para o processo criativo. O objeto da análise será o palhaço de circos pequenos, uma vez que nestes circos ele é a personagem central do espetáculo. No entanto, não se excluem entrevistas com palhaços que atuam em circos grandes. No primeiro capítulo, O circo e sua história, é feita uma síntese da história e origem do circo. Também neste capítulo, procura-se não só contar a história desta arte como também entender o significado que a arte circense teve ao longo do tempo. E, por último, são abordadas as diferenças e semelhanças entre o circo e o teatro.
Ser palhaço é o segundo capítulo, em que procura-se indagar sobre o que é ser um palhaço, revelando, entre outras coisas, os dissabores dessa profissão. Permeada de mitos esta é uma das profissões mais antigas. Aqui, investiga-se a origem do Clown Branco e do Augusto, demonstrando assim as diferenças que compõem essas duas personagens. No terceiro capítulo discute-se a criação da personagem palhaço, de como esta é concebida e quais são os elementos participantes deste processo de criação.

Comédias de circo teatro

HEYTTOR BARSALINI e ISIELY AYRES

Neste livro, o objetivo maior dos organizadores foi resgatar e garantir a existência das antigas comédias usadas nos circo-teatros, que corriam o risco de desaparecer pois eram transmitidas via oral de geração para geração de artistas. O livro contém as peças: "O princípe da Maçonaria" e "A Bomba". Mais do que um livro, é um documento!

José Alfredo

Quando viajo,
aí eu sinto
que eu não minto!
Sem mais,
eu digo até mais!
Quando eu sinto desejo,
aí é que eu vejo!
Na realidade,
aí é que é a minha
felicidade.

Palhaço (samba)

Nei Nascimento

quem foi que disse que seria fácil?
quem foi que disse que era só querer?
para voar tem que sair de baixo,
para ensinar , primeiro aprender...
lágrima e riso num mesmo palhaço,
máscara e face num mesmo viver,
se sob a lona o riso chega fácil,
em volta dela o duro é não sofrer...

mas deixa a água correr,
deixa o tempo passar
deixa um sonho morrer...
pra outro sonho brotar
e se cansado solitário e fraco
você ainda precisar sorrir...
se as suas pernas buscarem espaço
e não houver espaço aonde ir,
se as esperanças virarem pedaços
e os medos todos resolverem vir...
quem do trapézio não olhou pra baixo
e desejou do vôo desistir

mas deixa a água correr,
deixa o tempo passar
deixa um sonho morrer...
pra outro sonho brotar

Para ver e ouvir: http://br.youtube.com/watch?v=xLM3XTjvOMY

Nei Nascimento é poeta, músico e professor.

Piolin


MANOELA MARIA VALÉRIO
TIAGO CASSOLI

Sob a lona de um circo armado na cidade de Ribeirão Preto nasceu Abelardo Pinto, o palhaço Piolin, no dia 27 de março de 1897. Piolin encantou o público de sua época e foi, na efervescência de 1922, incorporado ao movimento modernista como um grande artista da cultura brasileira. Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Tarsila do Amaral, dentre outros, foram alguns de seus assíduos espectadores e amigos. Rendendo homenagem a Piolin, comemora-se o dia 27 de março como dia do circo.
E agora, o circo morreu? Não! Eis a mais antiga novidade: o circo é vivo e transforma-se, transmuta-se em milhões de formas, habita o passado e o futuro, é presente! Esquenta as praças e faz vibrar os corações da cidade! De saltimbancos medievais aos circos modernos do século XVIII, de circo pequeno ao grande, dos esquecidos aos sempre lembrados, venerados, o circo vive e há tempos que, todo dia é dia de circo.
Atentemos, no entanto, para os pequenos circos que percorrem nossas cidadezinhas. Estes são constituídos por um grupo familiar que não se pauta unicamente em vínculos consanguínios mas por pessoas que possuem, sob a lona, uma relação singular de trabalho, de educação, de transmissão da arte circense de geração para geração, possibilitando práticas muito diferenciadas dentro da nossa cultura.
Nestes circos encontramos a montagem de um espetáculo dividido em duas partes; na primeira, números variados de risco e de superação de limites corporais, como; o malabarismo, as acrobacias aéreas e de solo, os números de equilíbrio, o contorcionismo, a pirofagia, intercalados por esquetes e reprises da figura principal do espetáculo; os palhaços. Na segunda parte alguns circos exibem do mesmo modo os números de variedades, mas outros circos levam para o público um espetáculo de teatro com peças do repertório circense. Lembrando que a pausa do espetáculo é o momento em que os artistas vestem-se de vendedores de pipoca, maçã do amor, churros, pastel, guloseimas clássicas do universo circense.
Há mais de cem anos a passagem destes circos pelas cidades vem contribuindo para a produção e disseminação da cultura em nosso país. Cumpre, assim, um papel social fundamental para a população das cidades interioranas onde a circulação artística geralmente é escassa e que não são, em sua maioria, contempladas pelas políticas públicas culturais fomentadas pelos governos.
Entretanto, o circo itinerante tem a estrada como trajeto de seu trabalho, deste modo, para chegar de um ponto a outro, ou seja, de uma para outra cidade, tem que pagar taxas por todos os carros, trailers, caminhões, o que acaba por comprometer essa circulação. E então, quando chega numa localidade é cobrado a pagar para as diversas instâncias: prefeitura, corpo de bombeiros, aluguel de terreno, autorizações de polícia, etc. Por estas razões muitos circos não são autorizados a entrar em algumas cidades sem o prévio pagamento de alvarás ou pelo fato ainda de terem animais em seu espetáculo. Ocorre que cada município ou estado têm leis próprias variando as exigências oficiais para a entrada do circo na cidade, ficando assim ao sabor das circunstâncias, muitas vezes desfavoráveis, configuradas em sua chegada ao local.
Tais questões somam-se a um conjunto de fatores, dentre eles o surgimento da televisão que acabou assumindo o lugar de principal veículo de comunicação e difusão da cultura, antes realizado pelo circo e posteriormente também pelo rádio. Esses são alguns dos sérios motivos pelos quais essas famílias vêm enfrentando dificuldades para sobreviver e que contribuem para diminuir a circulação destes espetáculos pelo país.
Torna-se urgente a necessidade de pensarmos políticas públicas de incentivo e proteção deste veículo cultural imprescindível às cidades, em especial do interior, que muitas vezes têm no circo umas das raras possibilidades de experienciar uma obra de arte. O circo aqui tratado cumpre um papel social precioso para a sociedade e esta cumprirá com suas responsabilidades ao tomá-lo como patrimônio cultural que necessita de políticas públicas de incentivo e proteção.
Quiçá os outros tantos dias do ano sejam festejados com os tantos palhaços, trapezistas, acrobatas, malabaristas, artistas que levam esta arte aos picadeiros, palcos, ruas, ao interior, às capitais, à vida das cidades, aos corações, um brinde à alegria! E ao público! Eis que há de ser saboroso, neste acontecimento, o brinde ao encontro circense!
Manoela Maria Valério, integra a Equipe CIRCUS e realizou mestrado em Psicologia na Universidade Federal Fluminense RJ, com o tema das artes circenses.
Tiago Cassoli é doutorando de Pós-graduação em Psicologia da Unesp de Assis. Autor da dissertação de mestrado pela Universidade Federal Fluminense, Do perigo das ruas ao risco do picadeiro.

O buraco do palhaço...é mais embaixo


MANOELA MARIA VALÉRIO

Um dia desses, ele, o artista em sua fome engraçada, retomou o fio da vertigem para que pudesse, a concretude fugidia de sua existência, ser ouvida. Tantas coisas parecem querer dizer e este silêncio que povoa... Os espetáculos continuam e uivam aqueles tais seres de purpurina. Chegam e percorrem sonhos, pensamentos e experimentações. Dissolvem-se em noites sob a lona de telhas, de pano, de estrelas, ou o que for... desmanchados de si são artistas e público no ato que não se repete com a estranha troca de “exatamente o quê?”....alegria de um bom encontro.
Bom? Também. Quem sabe?....O que se sabe é que naquele dia o tal palhaço emergiu no pedaço aberto da cidade fechada.
Sentados em forma de meia lua, à beira mar, ou na ventania do sertão, o público cheirava terra, tijolos e pedras mofadas. Era tamanha a intensa expectativa daqueles segundos incontáveis que precediam a entrada do artista... Ufa! Penetrou!
O picadeiro aos poucos era todo seu, preenchido por cada gesto, uma energia peculiar fazia a ronda. Seu olhar era de quem inventava conhecer cada um que ali estava. Talvez conhecesse, talvez um faz-de-conta, mas pareceu por ora um amigo de longa data com quem se conversa coisas bobas e inúteis, escancara nojos e esparrama na cara tortas verdades, tortas...transmutação de previsíveis valores. O palhaço, sem diminutivos, pegou criança e a tratou com jeito, se duvidar, constrangedor... não fez nada belo para receber aplausos de “senhores cidadãos”, não a presenteou com o óbvio bonitinho. Deu o que ela não pediu, mas o que a vida lhe ofertaria talvez mais tarde. Susto, queda! “É para saberes que nem sempre temos o que queremos...”. Escracha com risada demoníaca!
Pegou homem grande, todos de quatro, deixou-o bobo, nu de formas, virou-o do avesso e virou homem, “un poquito”.
Figurino de colorido inusitado, nariz preto, traços rotos e negros no rosto, horroroso o cara mais lindo. Pediu com tanta atitude a presença das forças que até São Pedro parou de chorar para ver no dito acontecido, da cidade inominável, à beira mar sertanejo, aquele palhaço, feito de matéria esquisita, de palha, de aço... dali, dos buracos, terras e partes de baixo.

Manoela Maria Valério, integra a Equipe CIRCUS e realizou mestrado em Psicologia na Universidade Federal Fluminense RJ, com o tema das artes circenses.


Neps promove jornada de direitos humanos



O Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre as Sexualidades (Neps) promove neste sábado, dia 6 de abril, a jornada “Direitos iguais: nem menos, nem mais!”, evento preparatório para a Conferência Estadual GLBTT , que acontecerá nos dias 11, 12, 13 de abril de 2008 em São Paulo.
As atividades da jornada “Direitos iguais: nem menos, nem mais!” ocorrerão no Campus da Unesp de Assis a partir das oito horas, com uma conferência sobre a História do Movimento GLBTT em São Paulo, seguida de grupos de trabalho que debaterão temas específicos da Conferência Estadual GLBTT.
Para o encerramento das atividades, os organizadores da jornada promoverão a II Caminhada GLBTT de Assis, com saída prevista para às 16 horas da Rua Orozimbo Leão de Carvalho (sede do Neps), percorrendo as avenidas Marechal Deodoro e Rui Barbosa, com encerramento na Praça da Mocidade.

Provérbios rurais e história do Brasil


PAULO HENRIQUE MARTINEZ

O artigo de Eduardo Diniz Junqueira, “Quem chega atrasado bebe água suja”, publicado em O Estado de S. Paulo (26/março/08), é emblemático daquilo que digo aos estudantes de História: as temáticas ambientais são um fecundo caminho para conhecer a formação da sociedade brasileira. Por esta razão, tenho recomendado a sua leitura dentro e fora das salas de aula.
Um fazendeiro ilustrado é ave rara em nossa história, secularmente marcada pela rudeza mental e pela brutalidade física do capital agrário. No Brasil, entre as grandes famílias de proprietários rurais floresceram muitos talentos intelectuais. O historiador paulista Caio Prado Júnior (1907-1990) é, sem dúvida, exemplo cristalino.
A argúcia intelectual de Eduardo Diniz Junqueira em extrair uma compreensão do passado a partir do dito popular é instigante. Na década de 1940, Florestan Fernandes debutou na pesquisa sociológica estudando “máximas” e “adivinhas”, ditas folclóricas, na cidade de São Paulo. Hernani Donato compilou valiosa seleção de “Cem ditados rurais paulistas”, na Revista do Arquivo Municipal de São Paulo. Há anos Rolando Boldrin esmera-se em difundir, nos programas de televisão, a imaginação poética e musical da cultura dita caipira. E Chico Buarque de Holanda, filho de historiador, condensou em verso, a nossa história rural: “amplidão, nação, sertão sem fim”.
O refinamento ilustrado do fazendeiro e escritor, sem dúvida, o distingue. A sua compreensão da história brasileira, tatuada no provérbio que dá título ao artigo, porém, revela descompasso social e político com a atualidade. É elucidativo, por isso mesmo, do nosso passado e do nosso presente. Longe de acreditar que o governo Lula seja uma melancia política (verde por fora e vermelha por dentro), pois também neste aspecto o PT no governo federal ficou aquém das suas possibilidades e das necessidades históricas do país, a incorporação de variáveis ambientais é, hoje, uma necessidade nas políticas públicas e na iniciativa privada. Desde a década de 1990, economistas como Geraldo Muller, por exemplo, apontavam o lugar estratégico do meio ambiente e de alguma justiça social para a inserção competitiva no mercado mundial do século XXI.
É pesaroso ver a lamúria de Eduardo Diniz Junqueira, que emerge no ditado que escolheu para traduzir seus sentimentos, diante do fato de a Amazônia ter escapado ao ferro e ao fogo dos nossos empreendedores rurais. Tanto quanto não é intrinsecamente mal, o desmatamento também não pode ser considerado uma virtude e uma necessidade inexorável. O Haiti é um país careca de cobertura vegetal e não conheceu desenvolvimento algum. A pilhagem das vastas florestas tropicais do Congo não faz deste país um exemplo nem de conservação e nem do desenvolvimento humano.
O historiador norte-americano Warren Dean, atento, também recolheu um provérbio caboclo para abrir o seu livro sobre a ocupação territorial do Brasil e a supressão da chamada Mata Atlântica: “quem vier depois que se arranje”. Em ambos os casos, a sabedoria e a simplicidade popular exalam uma dramática idéia de desenvolvimento e de futuro para a sociedade brasileira. Tanto em um quanto no outro estão embutidos traços indeléveis da nossa formação social e econômica, caracterizada pelo exacerbado individualismo, a sanha pelo lucro fácil e rápido, a indiferença para com os destinos coletivos, a violência social e a rapinagem ambiental.
A semelhança nos conteúdos desses provérbios é diluída pelas interpretações de cada um dos autores referidos. Enquanto o fazendeiro lamenta a perda de tempo e de supostas glórias de outrora, o historiador padeceu a angústia de que o século XXI assistisse, mais uma vez, a cenas vivas do passado. Ele temia a destruição das florestas do norte do Brasil, por exemplo, animando a perda da biodiversidade, a espoliação das terras indígenas e a concentração da renda e da pobreza urbana, tal como ocorrera no sudeste.
O fator tempo, o “atraso”, também comparece na lembrança trazida por esses provérbios. Para Junqueira, houve atraso em desmatar a Amazônia, quando derrubar e queimar as florestas eram entendidos, por alguns e por ele, tristemente, como sinônimos de riqueza e de progresso. Para Warren Dean, o atraso estava na relutância em formular, ainda nos anos 1990, políticas e alternativas em busca de outro tipo de desenvolvimento, que resultasse em benefícios materiais mais abrangentes e culturalmente mais profundos.
Os passivos ambientais e sociais do novo século sugerem repensar os provérbios rurais, a história e o futuro do país. Eles sopram outro ditado rural: “o risco que corre a árvore, corre o machado”. A Amazônia será o pontal do Paranapanema de amanhã?

Paulo Henrique Martinez é professor e coordenador do Laboratório de História e Meio Ambiente na Unesp/Assis.