quinta-feira, 15 de maio de 2008

Ah! Essa mulher...


JAQUELINE BUENO


Este é o mês daquelas mulheres faceiras, ousadas, corujas, faladas. Daquelas que acordam cedo e beijam a testa, que dizem bom dia e não cobram nada. De outras tantas que abraçam e rolam na grama, que faz o feijão cheirar lá da ponta.
São curandeiras, bagunceiras, empregadas, amadas. É gente e, principalmente, adorada e clemente.
Oh, minha mãe! Qual homenagem seria melhor para alguém que me suportou durante oito ou nove meses, para alguém que aturou meus choros para não ir ao banho e esperou acordada até a minha volta. Lembro-me dos telefonemas, dos conselhos e dos puxões de orelha.
Várias vezes sentamo-nos lado a lado para contar como tinha sido o nosso dia, mas você não conseguia ao menos dizer que tinha trabalhado bem. Só eu queria falar e você nunca negou escutar e sempre ansiou ouvir mais. Ou então, quando conseguia proferir umas únicas palavras, eu adormecia recostada no seu ombro.
Fui cruel, insensata e também incompreensível. Pensava que mãe era para fazer tudo, dar carinho, atenção, roupa lavada, comida farta e momentos de lazer. Reconheço meu erro, porque descobri que mãe é que merece tudo isso e um “eu te amo”, no mínimo, dez vezes ao dia.
Faz tempo que não nos vemos. Olho o nosso retrato naquele parque e lembro-me do último dia em que estivemos juntas, conversando sobre como era ser mãe e me dá uma sensação de nostalgia.
Só então, depois de sua partida, eu percebi que o aperto no peito não era somente pela sua falta, mas pela quantidade de sentimentos não demonstrados.
Adeus rainha, amiga, inigualável criatura humana. Jamais me esquecerei que um dia tive você. Mulher jubilosa, aventureira e minha mãe.

Jaqueline Bueno é aluna de Jornalismo da Fema

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